Chinese Fishing Nets, photo by exfordy

Terminámos o último post a falar das redes que se formam entre os blogs e das suas características. Mas só tocámos a superficie.

Para começar as redes não se limitam aos blogs, podem e são geralmente redes de pessoas.

Por exemplo, um forum por si só constitui uma comunidade. E os membros desse forum formam redes ao participar noutros forums. Mesmo que não haja troca de links entre os dois.

E a essência das redes serão esses elos. Neste caso, não só os links trocados mas também as acções, reacções e interacções de ambas as partes.

Não conheço software de análise que tente identificar estas redes. Mas há um esforço bastante interessante por parte da Touchgraph. A falha da ferramenta para este modelo de que estamos a falar, é não se basear em acções, reacções e interacções. Baseia-se nos resultados de pesquisa do google e nos links relacionados que são sugeridos.

Podemos aproveitar para identificar já três falhas neste modelo de análise.

A primeira é a falta de uma ferramenta apropriada para identificar estas redes. Uma ferramenta que recolhas as métricas de primeiro e segundo nível para permitir o terceiro nível de análise.

Em segundo lugar é díficil saber onde começar. Podemos partir de um blog para iniciar a pesquisa e identificar a rede, mas como escolhemos esse ponto de partida?

E por fim, é preciso saber parar. Esta falha do modelo pode ser relacionada com o conceito de seis graus de separação, seguindo esta ideia existe um elo entre dois blogs seguindo apenas seis links, mas sabemos que não é bem o caso. Ou pelo menos eu nunca vi esta regra de seis graus/passos a ser comprovada.

Voltando à rede de blogs que podemos identificar. Podemos levar a análise um bocadinho mais longe se tentarmos analisar o nível de influência que ela tem pela ocorrência das mesmas palavras chave noutros meios ou pelo número estimado de visitantes que se deixam envolver pelo tema e o debatem através de comentários.

Livro Escrito por Pedro Fonseca

Escrito por Pedro Fonseca

A rede também pode ter uma dinâmica que lhe permite ir além do blog e influenciar outros aspectos da vida em sociedade. No livro “Blogues Proibidos” temos vários casos em que surgiram redes de blogs com uma influência directa nos meios de comunicação e outros aspectos da sociedade.

Para identificar essa dinâmica podemos tentar traçar um perfil dos utilizadores. Uma das formas de o fazer é através dos sistemas de valores.

De acordo com Geert Hofstede, os sistemas de valores são o centro da cultura. Vendo cultura como o software da mente, algo que condiciona a nossa forma de agir e de tomar decisões em oposição ao conceito de cultura do ponto de vista da antropologia e da sociologia.

No caso de uma agência, a análise dos sistemas de valores serve para escolher a abordagem mais adequada no relacionamento com os bloggers. Se for contraposta com uma análise dos sistemas de valores da empresa cliente, pode ser útil para identificar e corrigir dificuldades de comunicação.

Num post recente, o professor David Phillips abordou o tópico de sistemas de valores e análise semântica, explicando as implicações nas métricas de relações públicas.

This weekend I anticipate being able to analyse all the pages of designated web sites using semantic analysis. The objective is to be able to identify values systems evident in the text in the form of semantic chunks.

The model posits that relationships are based on values shared between actors and semantic chunks of text have characteristics akin to values. For all intent and purposes, semantic chunks in web sites are expressions of values. They are not the complete set of because other elements such as design, site uptime, photographs, video and other images are also expressions of organisational (and personal) values.

Outra forma de olhar para a rede, será pela frequência de actualizações e participação na mesma. Esses bloggers mais activos e participativos poderão mostrar-se como um dos melhores veiculos de comunicação. No entanto, é preciso ter em conta que alguns bloggers se mostram bastante activos no seu próprio blog, mas participam pouco nos diálogos que decorrem à sua volta.

E é assim que numa síntese de três posts tentei explicar a minha forma de entender a blogosfera e de avaliar os blogs e os respectivos autores.

Assumo que tem algumas falhas, e provavelmente ainda há métricas importantes que eu deixei de fora. E não é uma análise que eu alguma vez tenha visto aplicada; mas é desta forma que tento raciocinar antes de dar opinião sobre outro blog. — São medições que eu faço “a olho” e por isso mesmo não têm o rigor ciêntifico necessário para tarefas de consultoria.

Já me contaram que o blog do Markl ultrapassa o Expresso em pageviews. Não fui confirmar, mas não me admira que seja verdade.

Como ponto a favor, sempre é uma forma de olhar para os blogs que não deixa de fora a componente social. Como crítica principal, não se aplica tão bem aos “blogs de topo” como o do Nuno Markl, ou mesmo o Abrupto.

E mais?

Mais nada, o meu objectivo era apenas partilhar algo em que estive a pensar durante altura em que não actualizei o blog. Ficamos por aqui e agradeço a paciência de quem chegou até este parágrafo.  Como sempre, as dúvidas, contributos e opiniões são mais do que bem vindas!