Photo by Cuellar

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No primeiro post foi feito um inventário das principais métricas usadas para avaliar blogs individualmente. Esse primeiro nível de métricas é matemático, é frio e tem as suas falhas. Podem servir para modelos de análise simples, como é o caso de blogs de nicho suportados por anúncios.

Mas é um primeiro nível essencial, onde vamos encontrar a base para perceber algumas métricas mais complexas, menos conhecidas e mais difíceis de medir. Este segundo nível de métricas já começa a

A Linha Editorial

Podemos olhar para esta métrica como o nível de previsibilidade de um blog. O autor pode ou não ter uma linha editorial, temas a que se dedica de modo regular.

Para os blogs a linha editorial pode ser mais flexível do que nos meios tradicionais. Como exemplo, podemos olhar para o blog Economia e Finanças. A linha editorial existe e é clara, trata-se de um blog sobre economia onde o tema é explicado de modo acessível. Mas não significa que o blog não aborde temas paralelos, como por exemplo a reputação online e o relacionamento dos bancos com os clientes.

A linha editorial já é algo mais difícil de medir e que implica questões binárias ou de escala:

  • Existe linha editorial?
  • Até que ponto é que a linha editorial é rígida?
  • Quais são os objectivos do blog?

Reacções

Links, comentários e visitantes regulares vão traduzir-se em reacções. Acho muito interessante usar as reacções como métrica por causa do carácter comulativo. As reacções não surgem sem pageviews, links ou visitantes habituais, resolvem-se assim alguns problemas que identificámos no primeiro post sobre este tema.

Essas reacções podem ser através dos respectivos blogs ou de outra plataforma de publicação como o twitter, friendfeed ou mesmo comentando noutros blogs a respeito do conteúdo inicial.

Uma reacção pode ser também uma influência na linha editorial de outro blog, mas a este nível é mais difícil de provar ou mesmo identificar essa alteração. A não ser que se observe atentamente a sequência de posts dos dois blogs em paralelo, às quais teríamos ainda de acrescentar outros conteúdos dos dois autores, como o stream do twitter.

Podemos levar estas métricas mais longe se entrarmos no campo da análise semântica. Aqui o que se pretende é perceber a polaridade das reacções (positiva, negativa ou neutra).

Se o conteúdo publicado por um blogger tiver tendência a gerar muitas reacções negativas ou neutras, então não fará tanto sentido apostar nele como veículo de comunicação sem pelo menos ajustar a abordagem.

A análise semântica pode ser aplicada aos conteúdos ou aos comentários. Bem como aos links e a outro género de menções. Com esta análise podemos mesmo encontrar um blogger que publica conteúdos com um foque muito negativo mas que gera comentários positivos, em desacordo com a opinião do autor.

Características da Rede

Neste contexto, rede refere-se a um grupo de bloggers em torno de um determinado tema, ou que mostram interesse por temas próximos. O melhor exemplo são os baby blogs e os blogs de tecnologia que se divididem pelos diferentes sistemas operativos.

Para perceber se existe rede ou não, temos de monitorizar os blogs consoante a linha editorial e ver em que casos há palavras chave com significados próximos.

A rede pode ser mais ou menos próxima conforme há mais ou menos reacções e interacções entre os bloggers e o conteúdo que publicam. Interacção neste contexto é algo superior a uma reacção porque implica esforço coordenado dos dois lados. Um exemplo é a prática de guest posts, a criacção de e-books gratuitos ou a troca de memes (este último costuma ser uma forma mais fraca de interacção).

Consoante os temas, a rede pode estar polarizada em posições a favor ou contra. Para demonstrar, podíamos fazer um esforço para identificar os bloggers a favor ou contra a associação de bloggers. Estar mais ou menos polarizada não impede que existam elementos neutros ou que demonstram uma opinião que não se enquadra como positiva ou negativa naquele contexto.

Ou seja, além de neutra, uma rede de blogs em torno do mesmo tema pode ainda ter vários polos. Se olharmos para os diferentes blogs em torno do tópico de sistemas operativos, vemos que cada um apresenta a sua opinião sobre qual é o melhor sistema.

Algumas destas redes vão estar mais sujeitas à influência de “tópicos quentes”. Esses tópicos, ou temas, podem não fazer parte da agenda dos meios de comunicação tradicionais, como os jornais ou a televisão. Recordo-me por exemplo da discussão que se gerou na blogosfera em torno da norma de documentos proposta pela Microsoft, ignorando por completo a norma aplicada pelo Open Office.

Surgindo um tópico quente, podemos ganhar uma percepção do alcance de uma destas redes. Seja de que forma for, é importante olhar para estas redes e tentar perceber o modelo de comunicação vigente.

Isto significa perceber onde estão as fontes de influência, se surgem líderes de opinião ou se a conversa dispersa.

A conjugação de métricas

Para perceber se existem ou não estas redes, temos de conseguir avaliar os blogs individualmente conjugando as métricas de primeiro nível. Nem sempre vemos esse exercício a ser feito, geralmente a tendência é para analisar o número de pageviews, subscritores e comentários para perceber se existe retorno. Pouco mais. Nem sempre se fazem perfis dos visitantes com base nestas métricas, ou se faz uma avaliação das mesmas que vá além da medição “a olho”.

No caso das pageviews, ganham mais relevância se forem relacionadas com o tipo de conteúdo consultado. E para que isso aconteça é necessário que o site tenha sido construído com essa análise prevista.

Da mesma forma, é difícil perceber se o conteúdo se mostrou adequado às necessidades do visitante. Imaginem por exemplo um website que se dedica a partilhar a música de artistas independentes. Não vai ser o número de downloads a indicar se a pessoa gostou ou não.

Tudo isto para explicar que …

Vai ser pela escolha de métricas de primeiro nível indicadas que vamos conseguir construir um modelo de análise de segundo nível. Onde um blog não é avaliado individualmente, mas como parte de um contexto e tendo em conta o seu potencial de comunicação relativo a um determinado tema e objectivos.

Podemos levar esta análise de segundo nível mais longe, através de uma análise dos sistemas de valores. Fica para o próximo post.