Estas coisas poderão parecer diferentes e independentes entre si, contudo despertaram as mesmas sinapses no meu cérebro.
Primeiro, uma publicação no Bored Panda, mostra a diferença entre um amador e um profissional.
Segundo, uma conversa entre um amigo que é fotógrafo há mais de 20 anos.
Terceiro, empresas e marcas que deviam estar mais focadas no time to market acabam por perder oportunidades, ao limitarem o seu foco ao preço dos serviços.
Tudo isto é uma questão de confiança.
Amadores e Profissionais
Certo, o Bored Panda poderá até nem ser a nossa primeira fonte de artigos minuciosos e profundos, mas ainda assim oferece um excelente argumento sobre aquilo que constitui um profissional.
Um fotógrafo profissional olhará para o cenário mais mortiço e cinzento e vai ser capaz de encontrar maneiras de o fazer sobressair.
“Honestamente, consegui tirar as minhas fotos de rua favoritas nos lugares mais horríveis”, escreveu Vijce no seu mais recente artigo para a PetaPixel. “Claro, é um pouco mais desafiante encontrar o extraordinário no banal… mas afinal não é isso que distingue a fotografia de rua?”
De facto, ele consegue de alguma forma capturar o grão industrial da estação através de uma luz mais suave, mais ‘humana’, um efeito que ele insiste poder ser alcançado independentemente do local onde o fotógrafo se encontra.
Fontes:
Isto é algo simples, mas que esquecemos frequentemente. Temos tendência a qualificar os outros como amadores ou profissionais, tendo por base o seu contrato ou se conseguem viver ou não da sua profissão.
Por vezes esquecemo-nos do papel que a Qualidade tem na constituição de um profissional.
Isto leva-nos a falar sobre o Benjamin e a conversa que tivemos.
Ensinamentos do Ben
Bom, falemos primeiro um pouco sobre ele. É um fotógrafo talentoso, e que de facto consegue viver do seu trabalho, apresentando uma grande qualidade e, acima de tudo, consistência.
Conheço-o há já algum tempo, e acho sempre que ele não se valoriza tanto quanto devia. E é fantástico ver que quando ele se foca num assunto que considera interessante, desenvolve rapidamente uma grande amplitude e profundidade de conhecimento sobre ele, assim como uma sensibilidade apurada em relação ao tema.
Este último ponto é importante, porque uma coisa é absorver um conceito. Outra é ser-se sensível perante ele, mostrando conhecimento sobre como é possível manobrá-lo e os efeitos cascata que este provoca naquilo que o circunda.
Voltando àquela conversa, àquela mesa e às cervejas. Estávamos a discutir sobre como o mercado está repleto de fotógrafos. Alguns melhores do que outros, alguns com mais formação académica e outros sem nada.
O Benjamin apresentou um argumento bastante robusto. Contou-nos sobre alguns dos seus clientes e os projetos em que ele por vezes trabalha.
Num deles, já sei aquilo que o cliente espera. Conheço o seu público-alvo. Sei que preciso de tirar uma foto capaz de transmitir isso mesmo.
Nada disto lhe é, ou alguma vez foi, passado no briefing do projeto.
Miúdos, é desta capacidade de ouvir e criar empatia com o cliente que os vossos professores falam dizem que vocês “precisam de prestar atenção às necessidades do cliente”.
O cliente não quer uma fotografia. Ele podia arranjar qualquer pessoa para tirar uma foto, poderia até fazê-lo ele mesmo com um smartphone. Ele precisa de transmitir uma mensagem, de mostrar que a sua marca é interessante, de fazer com que uma imagem se prenda na mente do espectador. Toda a gente consegue tirar uma foto, mas pessoas como o Benjamim fazem uma foto.
Eu faço o trabalho, e entrego sempre a horas independentemente do que aconteça.
Ele não estava apenas a referir-se a entregar o trabalho a tempo. Ele estava a falar sobre o seu processo e qualidade. Sobre o seu conhecimento em relação ao local e ao método que lhe permitirão conseguir as melhores fotos.
Concluir o trabalho atempadamente é ser eficaz. Entregar trabalho de qualidade e poupar recursos é ser eficiente. E a melhor forma de tornar isto consistente passa por ser metódico, tanto quanto possível. Ele tem de facto um método e um processo, que tem melhorado ao longo do tempo.
E tudo isto não vem apenas da formação. É resultado da experiência e trata-se de um conjunto de competências sociais que algumas pessoas sentem dificuldade em encontrar.
Qual o preço da confiança?
Vamos fazer um pequeno salto lógico para outro assunto.
Há algum tempo descobri este vídeo. A parte que achei mais interessante surge aos 12 minutos.
Sentados numa outra mesa, com outras pessoas, houve uma discussão parecida. Em que se falou sobre clientes que demoram a decidir, sobre o quão rápido uma marca precisa de se movimentar hoje em dia; estávamos numa espécie de terapia de grupo.
O problema não tem sequer que ver com o tempo consumido pelo processo de decisão. Por vezes o problema é a abordagem dos clientes à decisão, maioritariamente centrada no preço, recusando ao mesmo tempo partilhar o seu orçamento com as empresas e os freelancers com os quais trabalham.
Já vi projetos a descarrilar porque o preço era o fator mais importante. Já me deparei com ótimo trabalho a baixo preços, e trabalho péssimo pago a peso de ouro.
Existe um excelente argumento no vídeo, onde Chris Do afirma que os clientes não escolhem a melhor opção, escolhem a opção menos arriscada. Isto é verdade para a maioria dos casos de que tenho conhecimento, mas ainda assim alguns guiam-se prelo preço. Ambos os caminhos são válidos, contudo, por algum motivo, fornecedores, agências e freelancers parecem estar a definir-se pelo menor denominador comum.
Por estas razões, parei de discutir o preço e ao invés passei a focar-me no nível do serviço.
Os clientes têm orçamentos e precisamos de nos encontrar a meio caminho, mas não podemos comprometer as coisas de que o Benjamin falou: método, sensibilidade, experiência e qualidade do trabalho.
De facto, voltando às opções menos arriscadas, é por isso que os clientes poderão optar pela proposta mais barata. Assim, arriscarão menos recursos no caso de estarem a cometer um erro.
Quando começam a ter confiança no fornecedor, eles ajustarão o preço para corresponderem à sua taxa, não é verdade? Lamento mas nunca vi tal coisa a acontecer. A forma como as empresas tomam decisões é, na maioria das vezes, processual e não racional. Assim que se acerta uma taxa com um vendedor, raramente é aumentada.
A única forma de quebrar o ciclo assente nesta falta de confiança é ter ambas as partes à mesa e sermos honestos em relação àquilo que está em jogo. Qual é o orçamento? Quais são os objetivos? O que cada um dos envolvidos necessita de fazer para garantir que estas coisas acontecem?
Estou certo de que tenho amigos a ler isto e, nas suas cabeças, pensarão sobre o quão romântico soa este tratado de paz. Romântico e impossível.
Talvez seja, ou talvez não. A única forma de saber é testar.