É sempre complicado deixar as coisas arrastar. Esta rotina funciona muito melhor quando a consigo fazer ainda de manhã. E há conversas que não se podem nem se devem deixar para depois.

Eu costumo deixar-me ficar muitas vezes pelas conversas mentais negativas: “Isto não vai correr bem

  • não estou a ver um bom caminho, e se falho?
  • e se descubro o que não quero?”.

E é tão fácil ter medo do desconhecido, ver algo ao nosso alcance e não querer arriscar. Mas não quero entrar nesta espiral de medos e receios. Falemos de outras coisas porque caminhar pela lama faz mal.

Podíamos falar do tédio e de como ele não é valorizado. Podia contar-vos a história de como ando a perguntar às pessoas o que as leva a escolher ter aulas de dança. Podia até estar aqui a contar-vos as várias conversas que tive com quem me rodeia a perguntar “porque é que fumas?”.

Realmente, ao final do dia não me faltam temas. Falta é aquela centelha mais atraente. Ainda não aconteceu começar estes textos e pensar —— Quero mesmo escrever sobre isto!

Já tive alturas em que me sentei ao computador e as teclas não paravam porque eram temas de que gostava mesmo. A parte triste, é que na maior parte das vezes eram coisas de trabalho. Mas não acontece sempre.

E é giro ver quando alguém tem uma paixão e fala sobre ela. Os olhos brilham e a voz fica mais forte. Há emoção.

A maior parte das vezes sinto que as pessoas estão simplesmente a arrastar-se até ao final do dia para no final repetir tudo outra vez. “Chego a horas, pagam-me e posso poupar algum depois de pagar as contas, está tudo bem”.

Fear the walking dead. Eu até consigo perceber esta atitude em alguns contextos, mas não a consigo defender. Quanto muito consigo dizer “porreiro, se estás feliz é o que importa!”. Na realidade estou a dizer “Não me importa para nada a escolha de marasmo que tomaste”. E isto é cruel ao ponto de me sentir mal em admitir que esta ideia já me passou pela cabeça mais do que uma vez.

É bom que exista um objectivo maior do que sobreviver ao dia a dia. E se não existe, ao menos que a pessoa não se limite a caminhar pelas horas até poder voltar para casa. Que esteja viva!

E no entanto, ultimamente sinto que preciso de encontrar algo novo. Um alvo mais longe, uma quebra da rotina, uma razão para me sentar ao teclado e só o largar depois de ultrapassar as 500 palavras e pensar –– Mas ainda falta escrever tanto!

E por favor, se chegaram a este ponto evitem a vossa reação natural de me tentar ajudar a encontrar esse obejctivo. Eu não sei o que procuro e qualquer coisa que me force a procurar, que me empurre para a pesquisa ou tente sugerir soluções só vai causar-me ansiedade. E nestas coisas é importante a frustração e é importante o tédio como ponto de partida.

Um dia falamos sobre o tédio, não vai é ser amanhã. 522 palavras.


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Bruno Amaral

Sou um Estratega Digital, dividido entre tecnologia e criatividade, a trabalhar para o Lisbon Collective e a ensinar Relações Públicas na …