Não sei se vai ser difícil escrever uma página por dia. Por agora estou sentado à mesa do pequeno almoço, rodeado de banalidades e com uma chávena de café com leite que diz “Tea Me”. Adoro estas pequenas contradições.

8h40. Tenho a sorte de poder ter uma rotina que começa devagar.

Quanto tempo demora a escrever 500 palavras? É pena não conseguir ter um mecanismo para contabilizar a minha produtividade. Só pelo prazer de saber se daqui por uns tempos vou ser capaz de escrever mais depressa.

Uma coisa vou saber, se as ideias ficam ou não mais coerentes com o tempo. O que será que isto faz ao cérebro?

O cérebro é capaz de se adaptar e é quase como um músculo. Só não sei que efeitos terá este exercício diário.

“Be right back, Moving house” do Ghost poet é o que se ouve agora.

A regra de não voltar atrás nos textos, de não apagar parágrafos inteiros, é ao mesmo tempo uma ajuda e um peso. Porque sinto que as coisas ficam desconectadas. Neste momento não tenho qualquer fio condutor com o início do texto e ao mesmo tempo estou a sentir-me ficar sem ideias.

Hoje o desafio é maior. Tenho de conseguir chegar às 500 palavras sem chegar atrasado ao emprego. Eu odeio atrasar-me. Causa-me desconforto físico. E isso tornou-se mais grave desde que uma vez, por causa de uma mudança de hora e de uma maratona na ponte 25 de abril, deixei a Cristina horas à minha espera.

Ah raios, é tão fácil distrair-me e olhar para o telefone. Só para ver coisa nenhuma. É o refúgio para quando chego à falta de ideias e para quando as palavras páram de fluir.

No outro dia mostraram-me uma entrevista onde o Louis CK explica porque é que odeia os telefones. Porque são o refúgio quando nos sentimos sozinhos. E não há mal directo em nos refugiarmos da solidão. Só que isso vai também tirar um bocadinho do valor de nos sentirmos próximos dos outros. De haver uma ligação clara e forte entre as pessoas.

353 palavras. É por estar a prestar tanta atenção ao contador que está no final do texto que sei que isto me está a custar mais do que eu imaginava.

“Um página por dia? Pacífico.” Agora não há como voltar atrás. Como também não há forma de voltar atrás, ao parágrafo de introdução e explicar melhor o ambiente onde estou. E se o explicar aqui, fica forçado, fica um texto mais feio ainda do que esta confusão de ideias.

Ainda aí estão? Há uma ideia que não me tem saído da cabeça e que não sei como a colocar nestas páginas. É como um segredo que quer sair mas não encontra a porta.

É sobre as conversas. É sobre o quanto é bonito ver uma pessoa que está feliz e que está a tornar-se cada vez melhor e mais forte. É sobre a vontade de nos percebermos e de nos explorarmos. Fica para outro dia ou se calhar para nunca. Logo se vê. 521 Palavras.


avatar Bruno Amaral
Bruno Amaral

Sou um Estratega Digital, dividido entre tecnologia e criatividade, a trabalhar para o Lisbon Collective e a ensinar Relações Públicas na …